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Foto do escritorBeija-Flor Editorial

A filosofia como uma prática do dia a dia.

Por Chiara Santi


No primeiro texto da coluna eu procurei me apresentar e dizer mais ou menos o que a filosofia significa para mim enquanto uma escolha de vida e formação. Neste segundo texto e de agora em diante, trarei eixos temáticos que sirvam de reflexão para um grande público, com as lentes da minha visão sobre determinado assunto. Alguns amigos ocasionalmente me dizem que gostam muito dos meus textos, o aspecto do cotidiano, do dia a dia, da vida comum. E do jeito como consigo trazer extrair de acontecimentos banais alguma reflexão filosófica. Costumo responder de volta, é isso o que entendo por filosofia, estar desperto para a vida, falar e ser compreendida. Fazer refletir sobre a realidade que se apresenta diante dos nossos olhos agora. E todos somos capazes disso. Só precisamos procurar despertar mais a nossa mente.

 

Não sei em que medida serei capaz de fazer os jovens se interessarem pela filosofia, mas sei que precisamos cada vez mais da energia da juventude para modificar e transformar certos cenários atuais. Crianças e jovens são o futuro, e devemos cuidar deles com bons conselhos e cuidando para que ainda aja vida neste planeta para a espécie humana continuar existindo. Muito tem me preocupado o meio ambiente e o modo como a terra vem reagindo ao nosso contato com ela. Na verdade, eu acho que é próprio da natureza um ciclo inato de vida-morte-renascimento, nós é que estamos causando deliberadamente nossa destruição, sem nos darmos conta disso.

 

Cresci na Zona Norte do Rio de Janeiro, estou acostumada com calor, o asfalto, cimento e prédios, o verde é muito ocasional. E, mesmo assim, pessoas da minha rua comemoram quando uma árvore é arrancada, com a percepção “agora a rua e a minha calçada ficarão limpas”. Era uma amendoeira gigante. Agora só temos fio de internet e luz cortando a paisagem. É triste, é de partir o coração. E às vezes me fogem as palavras certas para expressar o tamanho da minha decepção. Têm uma rua do meu bairro que é tipo um atalho para mim, costumo passar por ela para encurtar o caminho.

 

Na minha infância, essa rua era bastante famosa e movimentada, aconteciam festas comemorativas, como a data do dia das crianças no mês de outubro. Eu adorava participar, o local acabou ficando conhecido por “Mangueira”, porque bem no final da rua havia uma grande Mangueira, que dava manga, uma sombra grande e várias folhas no chão sim. Utilizei o verbo no passado porque a Mangueira morreu em 2022, a árvore realmente secou por dentro com sua raiz. Deixaram a parte cortada dela lá por 2 anos, recentemente eu vi que cortaram tudo e perguntei ao vizinho se plantariam uma nova árvore. Ele me disse que não, vão tirar a terra para aumentar o asfalto da rua e fazer mais duas vagas para estacionamento. Fiquei triste demais.

 

A nova geração de crianças do bairro jamais entenderá o motivo da rua ser conhecida como “Mangueira”, não haverá mais sentido nenhum para isso. E são nas pequenas atitudes cegas e ignorantes do nosso dia a dia que assinamos o nosso destino. Cada vez mais vejo crescer prédios e mais prédios, é como se fosse proporcional ao fato de eu não conseguir mais respirar quando saio na rua. Sufocada, um calor que vem das paredes, do asfalto, do engarrafamento de carros gerando a fumaça que congestiona a respiração. A ausência de verde ao redor para purificar o ar e gerar mais sombra.

 

Isso que acabei de contar é a realidade de um bairro pequeno, imagine em uma escala nacional. Há várias pessoas que também não dão a mínima para o impacto de suas ações no mundo, no país, no Estado, na cidade, etc. Não querem saber dos efeitos, causas e consequências de absolutamente nada. Tudo se resume a solucionar de imediato os próprios problemas, a geração de mais lucro e extermínio da natureza nesse processo todo. Não estamos cuidando do presente divino que foi dado para nós. A terra é abundante, com seus próprios ciclos e transformações, mas a ação humana está danificando esse processo natural.

 

No Brasil, nós temos importantes ambientalistas que realizam um bonito trabalho, eu acompanho no Instagram o Diego Saldanha, um homem que decidiu por vontade própria começar a limpar um rio perto da casa dele. E desde então já tiveram várias histórias de mudança para melhor, toneladas de lixo recolhidos quase diariamente, limpeza nas praias, reaproveitamento de objetos, e a popularização de uma conscientização das pessoas. É uma atitude muito inspiradora.  Passei a olhar os rios da minha cidade e a ficar muito triste com o que encontro e percebo também, sobretudo, a evidente poluição. Perceber que há lugares que nem sequer possuem saneamento básico. Não é só uma questão de pedir que o lixo seja colocado no lugar certo, é toda uma estrutura, que está errada desde a sua base.

 

Cheguei a me questionar se eu não deveria ter feito engenharia ambiental ou qualquer coisa voltada para isso, mas me esforcei para saber, de que forma a veia filosófica poderia me ajudar nisso. Uma das perguntas motivadoras da filosofia é “para onde vamos?”, mas do que um lugar geográfico, diz respeito até onde nós queremos chegar e em qual situação. Ao nível de humanidade, isso nos diz sob a constante inquietação de um futuro que está sendo moldado por nós agora, tendo em vista a nossa relação com o meio ambiente, o modo como estamos destruindo tudo ao nosso redor sem se preocupar com o amanhã. Mais do que uma simples reflexão e um falatório sem fim, prefiro enxergar a filosofia atrelada a uma prática de vida. Responder com uma ação efetiva na realidade.

 

Passei a fazer a coleta seletiva dentro do meu condomínio por vontade própria, o prédio onde moro não separa o lixo e também não incentiva as pessoas a fazerem isso. Deixo na rua vizinha, onde sei que o caminhão passa. E muitas pessoas acham que isso é bobagem ou perda de tempo. Ficam com preguiça de limpar as embalagens após o uso. Nossa atitude parece mínima diante de uma realidade cheia de problemas, eu sei disso também. Mas acho importante começar de algum lugar. Ir mudando aos poucos os nossos hábitos, repensando o alcance do nosso impacto.

 

Uma das primeiras ações possíveis seria essa: contribuir com a coleta seletiva. Jogar lixo no lugar certo. 2. Cobrar das autoridades políticas da nossa própria cidade um posicionamento sobre essas questões. Escrevi uma mensagem que nunca foi respondida para um político, pedindo que plantassem mais árvores na Zona Norte. Tentarei mais uma vez, talvez com outro contato. 3. Procurar ONGs e grupos que incentivem o cuidado com o meio ambiente. 4. Mudar nossos hábitos de consumo, evitar adquirir materiais que não conseguem ser reaproveitados pela reciclagem. 5. Sermos críticos das grandes empresas e indústrias, e cobrar delas uma transformação no modo como elas agem na natureza, regularizando o alcance dos seus impactos perante a leis ambientais que sejam mais rígidas em favor da natureza. Para onde vamos eu ainda não sei, mas eu gostaria muito que ainda existisse um mundo natural, vivo e humano para as próximas gerações continuarem usufruindo das coisas boas da vida.

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