top of page
Foto do escritorBeija-Flor Editorial

JOGOS ELETRÔNICOS QUE DARIAM EXCELENTES LIVROS



Por Paloma Sama


Apesar de apreciar todo tipo de game, os interativos são meus preferidos, pois há um trabalho mais cuidadoso em cima do enredo, pois suas escolhas influenciam diretamente em seu final. Personagens podem morrer e não voltarão mais, te forçando a seguir a história sem ele; você pode se tornar o vilão ou o mocinho; pode ser amado ou odiado pelas pessoas com quem interage no decorrer da trama, quase nos transportando de fato para dentro da tela. Outros jogos também fazem isso, mas os interativos não têm um final padronizado, o que faz uma grande diferença para mim (pelo menos).

Eis que mais uma vez, assim como em meu texto anterior, trago outro jogo com essa mesma temática: interativa.

 

Detroit: Become Human

(Lançado em 2018 pela Quantic Dream – ação e aventura)

 

Em 2038 a cidade de Detroit (Michigan, EUA) foi futurizada, onde a sociedade está profundamente integrada com androides muito avançados que desempenham várias funções do nosso dia a dia. Há faxineiros, policiais, babás, cuidadores e até mesmo acompanhantes do sexo. É comum vê-los caminhando pela cidade fazendo trabalhos que ninguém quer e até mesmo, como alguns reclamam no decorrer da jogatina, “roubam” os empregos dos humanos (os empregos que eles de fato querem. Consegue ver alguma semelhança entre isso e trabalhos automatizados por máquinas hoje em dia, fazendo com que muitos sejam demitidos, pois o custo da máquina é menor que a mão de obra humana?).

Em meio a esse conflito de roubar empregos e satisfazer desejos de outrem, somos apresentados a três androides com “vidas” distintas, mas que se interligam de acordo com o que você faria se estivesse no lugar deles. A história se desenvolve intercalando entre eles após cada um passar por um conflito interno.

Connor: androide de última geração, criado para auxiliar a polícia em investigações contra outros androides que possuem desvios de conduta, onde foram desenvolvidos para agir de uma maneira e passam a fazer o oposto, tendo até pensamentos próprios, emoções, algo fora de sua programação. Ele trabalha com um tenente que não tem qualquer apreço por máquinas, o que dificulta o desenvolvimento do caso o qual trabalham, onde tentam entender porque tantos androides estão se tornado “desviantes”. Aos poucos, conforme se avança no enredo, ambos vão desenvolvendo uma relação que pode ou não ser boa, dependendo das nossas escolhas. Connor é confrontado diversas vezes durante a trama, onde se vê entre a cruz e a espada: proteger aqueles como ele ou os humanos? Se proteger os seus, se torna um daqueles que persegue (indo totalmente contra sua programação); se escolher proteger os humanos, está opondo-se ao grupo que é, assim como ele, androide.

Kara: androide projetada para tarefas domésticas, as quais cumpre perfeitamente, e soma a função de cuidar de uma criança de nove anos, filha de seu proprietário.

Diferente de Connor a narrativa de Kara gira em torno de Alice (a filha). Após a androide presenciar, mais uma vez, seu proprietário ser abusivo com a criança, ela percebe que é errado, quer proteger a menina, mas para isso precisa atacar seu dono, o que foge de sua programação. Mesmo assim o bem-estar da garota é sua prioridade. Tomada a decisão, salva Alice e foge da casa, em busca de um lugar seguro, tornando-se uma androide “desviante” (e que será perseguida por Connor). Sua jornada é de fuga constante e sobrevivência, sendo colocada à prova diversas vezes, percebendo inclusive a dura realidade de um mundo onde os androides são perseguidos e discriminados.

Markus: é o androide responsável por cuidar de um famoso pintor, já idoso, e cadeirante. Seu conflito se inicia quando é acusado injustamente de um crime e decidem destruí-lo (pois foi contra sua programação), porém ele “sobrevive”, criando consciência de sua existência e percebendo que sua classe é discriminada e maltratada. Sendo assim, cansado de injustiças e abusos, torna-se o mandante de um movimento de androides que lutam por liberdade e direitos iguais. Sua liderança torna-se essencial e é a qual define o rumo da revolução dos androides, influenciando o futuro de toda a sociedade.

***

O jogo possui em média de 40 finais, que se desdobrou ponto a ponto conforme escolhemos “esquerda ou direita”. É muito interessante e único, presenciar quantas opções você tem, a cada capítulo, de mudar o seu futuro.

A história se destaca pela complexidade de sua narrativa, nos desafiando a refletir sobre questões éticas e morais. Com os entrelaçados durante o jogo, eles têm suas vidas determinadas com base em nossas decisões (assim como um escritor faz em seu livro kk); os androides podem alcançar a tão aclamada liberdade e coexistir pacificamente com os humanos, o oposto, havendo guerra e destruição, ou ainda, diversas variações dentro desse contexto.

Há a exploração de muitos temas importantes, como a luta por direitos civis, a definição de humanidade, e as implicações éticas da inteligência artificial, coisa que tem sido muito discutida ultimamente. Seria possível fazer uma série de livros, mais completos, explorando cada item individualmente, trazendo as questões em pontos mais fortes sobre como lidamos com o avanço da tecnologia e o próprio preconceito com outras minorias.


Achei excelente! É um jogo que vale muito a pena, diversas vezes, considerando quantas opções nós temos.

35 visualizações
bottom of page