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Foto do escritorBeija-Flor Editorial

Quando tudo virou tão mono?




Por Maria Gabriela Cardoso


Na infância, uma das brincadeiras mais comuns entre mim e meus primos era observar os carros que passavam na rua. Sentados no muro, apontávamos e dizíamos “esse é meu!” e logo vinha “não, esse é meu!” e assim iniciava uma “briga” pra saber quem seria o verdadeiro dono do carro, eu ou eles. Os carros vermelhos eram os mais disputados, mas os azuis não ficavam para trás. Ninguém queria os verdes. Os amarelos até que não eram tão ruins assim. Isso também acontecia com as casas. Eu morava em uma da cor amarela, a casa do meu primo era laranja no final da rua, vizinha a uma residência rosa-bebê. Na nossa idade, a sensação do momento eram as roupas de personagens, coloridas e chamativas. As minhas eram da Hello Kitty ou das Meninas Superpoderosas. As dos meus primos, de carros e super-heróis. O passado era tão colorido. Hoje, por onde se anda, a cada dia que passa surgem ainda mais casas cinzas. A cor virou algo “brega”, chique mesmo é ser sem cor. Qual foi a última vez que você viu um carro colorido? E as crianças? Parecem mini-adultos, vestidas com roupas de grife, sérias e limpinhas. Talvez isso seja retrato de como estamos por dentro, endurecidos, fechados e pouco felizes. Sozinhos e individualistas. Não temos mais outros caminhos, apenas um, o nosso. E lá se vai mais um dia em que se traça o trajeto da padaria sem esboçar um “bom dia” para alguém. É sempre reto. Eu. Eu. Eu. A vida virou tão, tão monocromática.

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